CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

segunda-feira, abril 15, 2024

PMAM: SEUS PRIMÓRDIOS (31)


Mais um capítulo sobre a história da Guarda Policial, atual Polícia Militar do Amazonas, no período provincial, compartilhado do meu almejado livro Guarda Policial (1837-1889). 

 

Capa do livro no prelo

Segurança individual e da propriedade

Os degradantes choques corporais entre integrantes das forças militares versus auxiliares foram uma constante desde tempos idos. Em Exposição, o barão de Maracaju, presidente da Província, ao entregar a administração em 26 de agosto de 1879, registra mais um dessas agitações, naquela ocasião, entre guardas e marinheiros. Aconteceu em 8 junho desse ano, por ocasião dos festejos de Santo Antônio; na praça dos Remédios travou-se um conflito entre praças da Marinha e uma patrulha da Guarda Policial.

Na refrega, resultou assassinado o guarda José Bezerra de Maria e feridos o guarda Vicente Santiago Pinto e “um imperial marinheiro” (incrível, mas não identificado). Lamenta o presidente que o delegado de polícia e a promotoria não tenham identificado o criminoso. E, como a suspeita recaía em algum imperial marinheiro, “recomendei ao comandante da flotilha que procedesse de modo a chegar ao conhecimento da verdade”. Igualmente não deu em nada!

Custódio Pires Garcia

Os Ministérios da Justiça e o de Estrangeiros, em Avisos de 28 de agosto de 1879, responsabilizam o 1º suplente de Juiz Municipal, Custódio Pires Garcia, “pelo irregular procedimento que teve relativamente ao espólio do súdito inglês Alfredo Eduardo Tucker”. Garcia, um conhecido argentário, não legou boa fama. Ao contrário. Foi morto violentamente, sem que se descobrisse o autor do crime. Entrou na história da Polícia Militar pelo fato de ter iniciado a construção do prédio que abrigou esta corporação por mais de um século. Edificação hoje transformada em Palacete Provincial, administrada pela Secretaria de Estado da Cultura.

A denúncia ministerial, pressuponho, ou não surtiu qualquer êxito ou não houve comprovação do delito, porque, em 19 de abril seguinte, o capitão GN Custodio Pires Garcia recebia na condição de 1º suplente os encargos de Juiz Municipal e de Órfãos.

sábado, abril 13, 2024

EDUARDO RIBEIRO: INVENTÁRIO DOS BENS (2)

Busto de Eduardo
Ribeiro
Ainda é possível avaliar a herança deixada pelo ex-governador Eduardo Gonçalves Ribeiro, morto em 1900, visto que seus bens foram inventariados, tão logo a Justiça teve ciência do seu falecimento. A cópia deste processo encontra-se no acervo do IGHA (Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas), dele copiei o quanto se segue. Devido a extensão do documento, acatei a separação dos bens como realizado pelo escrivão do feito, obviamente submetendo à ortografia atualizada. A data e as autoridades processantes são as mesmas relacionadas na postagem anterior. 

Embora a relação seja titulada por “Joias”, nela foram inseridos os mais diversos objetos encontrados na residência do falecido. 

Joias – um cartão de prata com inscrição dedicado por Manoel Correa de Araújo | um cartão de prata, oferecido por Paulo Machado, inclusive uma caixa de pelica | um cartão de prata em caixa de pelica | um cartão de ouro com inscrição da empresa telefônica | um chatelaine de ouro com cinco brilhantes e dez diamantes e uma medalha de ouro também de dezoito quilates com seis brilhantes, no valor de setecentos mil réis | uma medalha de ouro de dezoito quilates, com uma torre, no valor de trezentos mil réis | uma caneta de ouro com pena, de dezoito quilates, com diamantes em número de vinte e dois | um caneta, idem, idem, com doze, onze diamantes em uma caixa de pelica preta, com inscrição em dedicatória ao falecido | duas canetas cabos de madrepérola | um alfinete botão com seis brilhantes | um alfinete com pérolas e um rubi, em forma de espada | um par de botões de ouro com brilhantes, no centro | um botão de peito de ouro com brilhante de dois quilates, para peito | um botão idem, idem de três quartos de quilates para colarinho | um anel de engenheiro com dois brilhantes e uma turquesa | um relógio de ouro número setenta mil duzentos sessenta e três | uma corrente de ouro de dezoito quilates, simples | uma corrente idem, para chave | um porta-joias pequeno de prata oxidada, com dedicatória ao falecido | duas moedas de dois mil réis cada uma | uma moeda de prata comemorativa da exposição de Chicago | quatro bengalas com castão de ouro, sendo três de única cor e uma violeta | um estojo com uma escrivaninha eletro-prata | um estojo contendo um tinteiro | três castiçais | um corta papel | uma caneta | um porta mata-borrão | um peso papel | um carimbo, tudo de prata dourada | um bule de prata para café | um bule idem para chá | um açucareiro idem | uma manteigueira de metal branco com depósito de vidro | um serviço de toalete de metal branco composta de bacia, jarro, porta-sabonete | um porta pó de arroz | um porta escovas | uma garrafa idem, uma xícara e pires idem, dois copos idem, uma esponjeira | alguns cromogramas do falecido | um tinteiro de metal branco, em mau estado | dois pares de porta-flores de metal branco | dois vasos com argolas eletro-prata para plantas | um porta charutos de prata dourada | um estojo chagsein (?) com escrivaninha de prata composta de sete peças | um estojo com seis taças de prata, para champanhe | um estojo para desenho | duas caixinhas com aparelhos matemáticos | dois com retratos, um maior e um menor | uma pasta de cetim bordado a ouro | duas almofadas para sofá, uma bordada a ouro e outra, em matiz | um estojo com dois revólveres e seus pertences | um estojo com um revólver idem | um trânsito(?) | uma caixa com cessante | uma caixa com aparelho geodésico | três tripeças para trabalhos de engenharia | um óculos de alcance | oito estacas de meia | uma escrivaninha japonesa | uma mala de lona, contendo cinquenta e seis camisas bancas de linho | duas dúzias de meias fio de Escócia, usadas e novas| uma bandeira nacional, em mau estado | um caixão com jornais e papeis de correspondências particular | uma lata de flandres, contendo objetos de engenharia e fotografias | quatro caixas contendo livros e papeis particulares | uma cesta de vime usada | três esporas de metal branco | três pares de maçanetas para cortinas | uma mala grande de folha de zinco | uma mala grande | um estojo para o trabalho de desenhos | cinco colchas para cama | seis posteiros de algodão | duas malas de curo contendo um capote de lã e um par de luvas | setenta e três toalhas de linho para mãos | duas colchas | uma caixa com objetos do uniforme militar | quatro candeeiros de suspensão, em mau estado | quinze maços de planta cadastral | dois candeeiros para cima de mesa | dois caixões com jornais e livros | duas bolsas para roupas, uma em mau estado | o machado que foi empregado no corte do fio telefônico deste Estado, na sua inauguração.

E pelo adiantado da hora, suspendeu o Doutor Juiz a presente arrecadação, adiando para o dia de amanhã, às nove horas do dia. 

Nota pessoal: a leitura permite observar que a descrição dos objetos foi realizada de maneira apressada, pois tão sucinto são os detalhes registrados. Nem um escapou à voragem do tempo e dos aproveitadores, tanto que, das 80 peças aqui inventariadas, nada pode ser encontrada no Museu Casa Eduardo Ribeiro, localizado à rua José Clemente. 

quinta-feira, abril 11, 2024

EDUARDO G. RIBEIRO: INVENTÁRIO DOS BENS (1)

Ainda em alguma esquina da cidade repercute o destino da riqueza de Eduardo Gonçalves Ribeiro (ex-governador do Amazonas), morto em 14 de outubro de 1900. Tanto quanto os bens, a morte misteriosa do ex-governador incomoda. Todavia, é possível avaliar a herança, posto que os bens foram inventariados, tão logo a Justiça teve ciência do seu falecimento. A cópia deste processo encontra-se no acervo do IGHA (Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas), e dele copiei o quanto se segue.
Eduardo Ribeiro

Devido a extensão do documento, e para evitar a repetição de termos jurídicos, obedeci a separação dos bens como realizado pelo escrivão do feito, obviamente submetendo à ortografia atualizada.

Datado de 14 de outubro de 1900 (mesmo dia da morte), na residência do de cujus foram estas as autoridades e auxiliares presentes:

Emilio Bonifácio Ferreira de Almeida, juiz municipal de Órfãos, Ausentes e Interditos; Francisco Nogueira de Souza, escrivão de seu cargo; doutores Estevão Lopes Castello Branco, curador-geral de Órfãos, Ausentes e Interditos e Tranquilino Graciano de Mello Leitão, procurador Seccional da República; majores (GN) João Baptista de Faria e Souza, redator do Diário de Notícias, e Joaquim da Silva, do Manausdoutor Diomedes Theodoro da Costa, Raymundo de Miranda e outros circunstantes; doutor Manuel Menélio Pinto e dona Maria Izabel de Souza Leal, casal de confiança do morto, que o acompanhou até o falecimento, e com isso tornou-se responsável pela guarda dos bens.

 

1.    Móveis

sala de visita – uma mobília austríaca, composta de um sofá, quatro cadeiras de balanço, duas de braços, duas de guarnição | dois consoles com tampo de mármore | dois consoles também austríacos e com tampos de mármore | oito vasos de porcelana fina, sendo dois em mau estado | oito bibelôs de cristal fino | dois porta charutos de eletro-prata, sendo um em mau estado | uma caixa de madeira com amostra de um aparelho elétrico | um vidro com um bibelô  de madeira petrificada | um busto de gesso | um relógio de metal desconsertado | um fonógrafo em mau estado | duas almofadas para sofá de veludo bordado a seda | quatro medalhões de porcelana e metal para parede | um espelho pequeno, todo de cristal | um lustre de cristal de três bicos para gás acetileno | um tapete grande | um par de escarradeiras de porcelana | um par de quadros a óleo com molduras douradas | um quadro pequeno | um retrato, a óleo, do falecido | um quadro de crayon | um quadro impresso a cetim com moldura dourada | uma fotografia em um quadro | uma fotografia de Benjamin Constant, em moldura | uma outra idem, sem moldura | duas fotografias da Fortaleza Willeghont (sic), com fitas | um binóculo de madrepérola, em mau estado | um porta-retrato com uma fotografia | uma estampa em alto relevo | um quadro poguat (sic). 

Nota pessoal: nenhuma dessas peças inventariadas pode ser encontrada no Museu Casa Eduardo Ribeiro, localizado à rua José Clemente.

quarta-feira, abril 10, 2024

DE FUTEBOL E POLICIAL EM MANAUS: HÁ 50 ANOS

A postagem reescreve uma notícia envolvendo um oficial da PMAM (Polícia Militar do Amazonas) em razão de sua interferência em partida de futebol do ARNC (Atlético Rio Negro Clube). Trata-se do falecido coronel Aurefredo Melo de Souza, que à época integrava o departamento de futebol do “Barriga Preta”. A nota foi produzida pelo Jornal do Commercio, edição de 10 abr. 1974, portanto, há exatos 50 anos.

A foto mostra o árbitro Carlos Costa (dir.) e o então capitão Fausto Ventura (esq.) que,
certamente era o comandante da patrulha da PM no jogo.