CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Dia de Santa Luzia II

Recomendo ler a primeira parte para entender a razão desta postagem. Mais uma vez esbarrei na tecnologia.

Os trinta anos de sacerdócio do padre Paulino


Newton Sabbá Guimarães

Não poderia de modo algum deixar desapercebida esta data: hoje, 1º de maio, Dia do Trabalhador, o meu bom amigo padre Paulino Lammeier completa 30 anos de vida sacerdotal, e, mais que isso, são trinta anos de vida laboriosa e fecunda, repartida entre o magistério secundário e o sacerdócio, se podemos dizer assim vez que para ele a difícil arte de ensinar constitui também um verdadeiro sacerdócio.

Justamente há trinta anos, nessa mesma data, lá na Bahia de Todos os Santos, se deu a ordenação de padre Paulino. Daí para cá são anos e anos de dedicação e de trabalho e, por que não o dizer também (?), de amor às coisas e à gente do Brasil.

O trabalho que esse sacerdote estrangeiro por nascimento – mas nosso de oração – tem realizado no Brasil é digno de encômios e de admiração levando em conta que para um nórdico educado nas melhores universidades da Europa, dotado de uma lúcida inteligência aliada a forte cultura, o lançar-se nas selvas do Amazonas – como de fato o fez, a domesticar e catequizar índios nas missões salesianas e outras – representa o abandono de si mesmo, de tudo o que aprendeu, o desprezo de todo o conforto da civilização...

Viveu dez anos entre índios, até que um dia o descobriram, viram que no meio de tantos outros padres havia um que era forte helenista e o tiraram de lá para ensinar grego em Manaus.

Possuindo verdadeira alma de escritor, padre Paulino já enumera mais de doze obras entre originais e traduções, e exceção de um singelo romance religioso traduzido do alemão e publicado no semanário católico “Universal” (cuja revisão tive o prazer de fazer com referência aos últimos capítulos), todos os demais livros do padre Paulino permanecem inéditos.

Professor de grego e latim no seminário menor de São José, padre Paulino é ates de tudo um poliglota com a paixão das línguas. Além do alemão – seu idioma natal – e do português que domina às mil maravilhas, conhece regularmente o holandês, o italiano, o francês, o castelhano e possui tinturas de hebraico, que estudou ainda na Alemanha e por este último idioma sente verdadeira atração, pedindo-me muitas vezes lhe fale alguma coisa no Santo Idioma e é com admiração que o digo: padre Paulino pode seguir-me numa conversação em hebreu!

Com sincera alegria recordo o nosso primeiro encontro que tanta influência iria ter na minha formação intelectual. Sentindo desde muito criança verdadeira paixão pelo estudo de línguas, estava eu uma tarde, à parada de ônibus, com um imenso “Niederlaendisch-Deutsch Woerterbuecher” (Dicionário Holandês-Alemão), pois à época eu começava estudar o belíssimo idioma da terra de Juliana, quando se me aproximou o padre Paulino que ao olhar o livro perguntou: Sprechen sie deutsch? (Fala você alemão?)

A minha resposta afirmativa foi o início da nossa amizade. Com ele melhor aprendi o alemão e ainda por seu intermédio entrei em contato com universitários alemães (com os quais até hoje me correspondo) ajudando-me sobremaneira no domínio do grande e nobre idioma de Goethe, Schiller e do mais delicado poeta do mundo, o judeu Henrique Heine.

Não posso resistir à sedução de repetir que disse no livrinho que sobre o padre Paulino escrevi: Lobspruch von einem lehrer (Elogio de um mestre): “Pater Lammeier ist ein freund Brasiliens und insbescondere ein freund Amazonas” (Padre Lemmeier é um amigo do Brasil e particularmente do Amazonas).
Nada mais verdadeiro. É amigo de todos. Coração sincero e simples, dele se conta anedota que quando professor de língua e literatura francesa no ginásio D. Pedro II perguntava, nos exames finais, aos alunos mais fracos na matéria: Meu filho, de quantos pontos você precisa para passar?. O aluno dizia e o padre lhe dava quantos precisava por não ter coragem de reprovar o vadio. Algo pessimista e idealista ao mesmo tempo é este amigo sobre quem escrevo estas palavras.

O Jornal. Manaus, 1º maio 1960. Há ligeira incorreção no nome
do autor

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