CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

domingo, abril 17, 2011

CORPO DE BOMBEIROS DO AMAZONAS (XIX)

Quartel dos Bombeiros, em Manaus
Em outubro de 1982, a substituição do então comandante dos Bombeiros, tenente-coronel José Cavalcanti Campos, forneceu movimentado burburinho. O pretexto era bastante usual: a leitura da ordem do dia (espécie de discurso militar lido em solenidades que, ao tempo do governo dos generais, causava certo calafrio). Para o gasto policial militar amazonense, o documento produziu refluxos. Antes de relatar a passagem de comando, uma palavra sobre a situação política. Vivenciávamos a proximidade do encerramento do Governo Militar e uma eleição direta para governador, com os candidatos em campanha: Josué Claudio S. Filho, da situação, e Gilberto Mestrinho, pela oposição.

"Santinho" do presidente Figueiredo
e deputado Josué Filho, 1982

Tudo começou em junho, quando da substituição do governador José Lindoso pelo vice, Paulo Pinto Nery. Nery demitiu o coronel Guilherme Vieira dos Santos, comandante da PMAM; nomeou, temporariamente, ao coronel PM Hélcio Motta, enquanto o Exército buscava o substituto. Quem assumiu foi o coronel EB José Raimundo Duailibe Mendonça, que chegou prometendo a vitória do candidato da situação.

Repudiando tamanha proclamação, o comandante do Corpo de Bombeiros contrapôs-se, arregimentando mais de uma centena de oficiais. A disputa eleitoral deixou então a caserna e adentrou a residência de conhecido cabo eleitoral de Mestrinho (Luis Costa, na rua 24 de Maio). Mas acabou na imprensa, que divulgou o esquema do comandante da PM que prometia encarcerar os oficiais recalcitrantes. Mas, venceu o candidato da oposição, e o final da história todos sabem.

Governador Paulo Nery substitui o coronel Guilherme (à dir.)
pelo coronel Helcio Motta (atrás), em 1982
Antes da eleição, o coronel Duailibe Mendonça vingou-se, exonerando o comandante dos Bombeiros. Cavalcanti prometeu revidar na ordem do dia, de leitura obrigatória na passagem de comando. Para ludibriar qualquer censura castrense, a ordem deixou de ser impressa. Neste ínterim, o governador Nery telefonou ao comandante Cavalcanti, aconselhando-o que amenizasse. De fato, foi amenizada. Na solenidade, presente o governador, coronel Cavalcanti leu seu discurso a partir do original, após o que me entregou as folhas que foram guardadas convenientemente.

Coronéis Cavalcanti e Ruy Freire comemorando, em 2004
Empossado nos Bombeiros o tenente-coronel Ruy Freire de Carvalho (27 out.), dele, o comandante Duailibe exigiu a ordem do dia. Claro, somente existia o original em minha posse. A fim de se escamotear o truque, coube-me como subcomandante imprimir um boletim especial (27 out.), com a devida "censura". No livro que escrevo sobre Os Bombeiros do Amazonas, reproduzo o documento.

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