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terça-feira, julho 24, 2012

Os cinemas Avenida

Existiram em Manaus três cinemas Avenida. O primeiro durou apenas meses entre 1908-09; o segundo marcou presença em 1912; e finalmente, o mais conhecido pela sua duração e progresso, pois foi inaugurado em 1936 e desapareceu, compelido pela energia da TV, em 1973. Curiosamente, todos tiveram endereço na mesma artéria, na avenida Eduardo Ribeiro, ao longo de dois quarteirões.

A sala de exibição denominada Cinema Avenida, localizou-se junto ao famoso “Canto das Novidades”, de Andrade, Santos & Cia., (onde estiveram, pela ordem, o Bar Americano, a agência do banco Credireal de Minas Gerais e, atualmente, o C & A). Funcionou de 28 de novembro até o início de dezembro de 1909, e esteve equipada com projetores da Pathé-Fréres e Gaumont.

Anúncio do cinema em Jornal do Commercio,
12 nov. 1912
Três anos depois, ao lado do “Restaurant Français” (mais tarde, Bar e Sorveteria Avenida e, atualmente, Bradesco), a 20 de outubro de 1912 foi inaugurado o segundo Cinema Avenida, de J. Moraes & Cia. Empregava a orquestra regida por Landry, Campos e Pagani. Tal qual o antecessor, este também teve existência meteórica, encerrando definitivamente em janeiro de 1913.

Somente em 1935, os sócios Antônio Lamarão e Aurélio Antunes fundaram a empresa Cinema Avenida Ltda. Para isso, a empresa adquire o edifício de nº 427 da famosa avenida, onde funcionara a Manáos Arte (1926-1934), para nele instalar a sala de cinema que receberia o nome de Avenida. O estabelecimento pertencia a firma J. G. Araújo & Cia. (casa especializada na venda de artigos fotográficos, projetores Krupp Ernmann e Pathé Baby, bicicletas, pneus e representação dos automóveis Willys).

A 1º de dezembro, Lamarão inicia as obras de reforma e adaptação do edifício. Reconstruído com luxo e conforto, a pré-inauguração do cinema foi realizada à 26 de março de 1936. O evento ocorreu às 21h, em sessão especial para imprensa e autoridades, com a exibição do filme americano Voando para o Rio, estrelado pela atriz mexicana Dolores Del Rio (1905-1983), Fred Astaire (1889-1987) e Ginger Rogers (1911-1995). 

Equipado com o “moderno” sistema de projeção Wide Range, da Western Electric, que combinava som e imagem, o Avenida foi o segundo (Alcazar, o primeiro no início dos anos 30) a usar esse processo, denominado de Movietone. Dispunha de 642 lugares e, na estreia, cobrou o ingresso a 3$200 (três mil e duzentos réis). No dia 27 de março, o cine Avenida foi oficialmente aberto ao público. 

Esquina da av. Eduardo Ribeiro com Saldanha Marinho,
onde funciona hoje o Bradesco e, ontem, o "segundo" cine Avenida
Denominado pelos jornais como o “Cinema da elite manauense”, o Avenida logo se tornaria o preferido da cidade, e famoso também pela presença constante do casal Aurélio Antunes, acompanhando o movimento da bilheteria, e da sua esposa, Maria Amélia Cezar Antunes, a dona Yayá.

Tradicionalmente usando seu vestido tubinho florido e os longos cabelos negros amarrados atrás, dona Yayá era uma atração à parte. Seja pelo jeitão espalhafatoso, seja pela maquiagem exagerada que a caracterizava, com isso tornou-se bastante conhecida pelos frequentadores do Avenida. Dona Yayá contava trechos dos filmes em exibição, visando atrair os mais hesitantes em entrar, em especial, as normalistas do Instituto de Educação.

O casal permaneceu à frente do cinema Avenida até quando este encerrou suas atividades. Sobre essa personagem carismática, o saudoso senador Jefferson Peres (1932-2008), em seu livro Evocação de Manaus, traça um breve perfil: 

No Avenida, além do dono, tínhamos também a presença diária, obrigatória, inarredável, de sua esposa, d. Yayá. Sempre com o rosto pintado de batom e ruge de tom arroxeado, lá estava ela, infalivelmente, em todas as sessões, sentada numa poltrona de palhinha, no hall de entrada, ou debruçada no gradil, ao lado da borboleta. Às vezes, ficava à porta, procurando aliciar espectadores com a recomendação: Entre, o filme é ótimo! E ante a incredulidade do interlocutor, acrescentava: E colorido! Para ela uma prova irrecusável de boa qualidade.

"Terceiro" cinema Avenida, fechado em 1973, em foto
após o fechamento
Nota: Estes recortes pertencem ao Ed Lincon, que sabe tudo sobre os cinemas de Manaus. Ao visitá-lo, dia 20, por motivo de seu aniversário, fui brindado com agradáveis notas sobre os cinemas e o material desta postagem.

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