CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

segunda-feira, novembro 11, 2013

À SOMBRA DOS IGAPÓS


Capa do livro
Waldir Garcia, juiz e educador, nascido em Silves (AM) registrou no livro de crônicas À sombra dos igapós (Manaus: Imprensa Oficial, 1987) uma série de fatos não apenas de sua cidade natal, mas igualmente de sua atividade em Manaus. O livro traz ilustrações do competente artista Edemberg Jr.

Bacharel pela Faculdade de Direito do Amazonas (turma 1946), Garcia aposentou-se como magistrado, depois de passar pela Auditoria Militar da PMAM, na condição de juiz. Foi nesta atividade castrense que o conheci. Depois, ele foi guindado a secretário de Estado da Educação pelo governador José Lindoso (1979-82).


Mestre e diretor da então Escola Técnica de Manaus, Garcia escreveu várias crônicas sobre este estabelecimento de ensino. Tomei de seu livro a crônica abaixo para relembrar o saudoso professor e eminente magistrado.

Contribuição de Silves para os eventos históricos pátrios


No dia 7 de setembro fluente encontrava-me em Silves em companhia dos diletos amigos José Menezes Ribeiro e Afonso Lima e de seus filhos Marco Aurélio e Edson, e assisti ao desfile dos estudantes saracaenses pelas ruas principais e o enaltecimento da efeméride feito por um professor local. Os estudantes, em fila e em ordem, empunhavam bandeirinhas do Amazonas e do Brasil, sob a entonação de hinos patrióticos emitidos por possante alto-falante.
Ilustração de Edemberg Jr.
Aquele acontecimento tocou-me a sensibilidade cívica e glebária, e, naquele momento, comecei a recordar a história da fundação de Silves em meu solilóquio, a coragem de frei Raimundo da Ordem das Mercês ao enfrentar corajosamente os ataques dos caboquenas, bararurus e guanavenes; o grande massacre dos indígenas da região pelo ferocíssimo selvaticida Pedro da Costa Favela; a heroica resistência de Silves à investida dos cabanos; o alusitanamento do município por Melo Póvoas; o romance "O Missionário", de Inglês de Sousa, reconstruindo a vida pacata da cidade em excelente obra de ficção, que mereceu os mais destacados encômios da crítica nacional; o esforço de Lauro Garcia e de Renato Farias de Almeida para traçar-lhe o perfil histórico; para, enfim, deter-me em dois fatos que merecem ser recordados neste setembro, de tanta evocação cívica.
O primeiro deles é o que se refere à iniciativa da Câmara Municipal de Silves que, em 1818, instada pelo último governador colonial do Amazonas, o coronel Manoel Joaquim do Paço e percebendo que a Capitania tinha como dos males maiores que a infelicitavam a sujeição ao Pará, em memorial dirigido a D. João VI, solicitou a autonomia da Capitania do Amazonas, o que veio apressar a promulgação da Lei nº 582, de 5 de setembro de 1850, que elevou o Amazonas à categoria de Província.

O segundo fato foi a adesão de Silves à Constituição Política Portuguesa, narrado em substancioso trabalho de pesquisa histórica da lavra do conceituado, inteligente e culto historiador amazonense, que é o Dr. Geraldo de Macedo Pinheiro. Conta-nos ele:

"Dia 24 do mês de julho do ano da graça de 1823, o Brasil, nessa época, já se tornara independente de Portugal, mas a alvissareira notícia que empolgou o ânimo de todos os brasileiros ainda não chegara a Silves”.
"A longa distância que se encontrava das Cortes e os sucessos e motins políticos que tinham curso em Belém, concorreram para que em
junho de 1823 os habitantes de Silves jurassem obediência à Constituição Política Portuguesa, de conformidade com o que preceituava o decreto real de 10 de outubro de 1822."

"Na igreja paroquial de Nossa Senhora da Conceição, logo depois do cerimonial católico da missa cantada, como era de praxe naquele
tempo em todas as solenidades cívicas, foi processado o juramento solene, com a presença de todas as autoridades eclesiásticas, civis, militares, empregados públicos e do povo, perante as mãos sagradas do vigário Nuno Alves do Couto".

"As palavras que foram pronunciadas com ênfase transcreveu-as o escrivão da Câmara, Antônio R. Teixeira da Cunha, no auto que lavrou: Juro guardar, e fazer guardar, a Constituição Política da Monarquia Portuguesa, que acaba de decretar as Cortes Constituintes da mesma nação".

"Mais de 30 assinaturas constam do documento em foco, encabeçadas pelo vigário Nuno Alves do Couto, por si e como procurador de frei José Alves da Chagas e do padre João Pedro Pacheco. Seguem-lhe o cabo de esquadra da milícia, Alexandre Antônio Coimbra; o presidente da Câmara, Ciríaco Francisco; os camaristas João Evaristo Roiz, Preto e Felizardo Ferreira Gato; o substituto Manuel Antônio Gouveia; o procurador Pedro José Teixeira; o servente Aulete Antônio da Costa; o escrivão Antônio Lins Teixeira da Cunha; o arrecadador João Ramos de Oliveira, como procurador do juiz ordinário João José Dias; o tenente Crispim Lobo de Macedo como procurador do juiz substituto Joaquim da Fruta Chaves; o tesoureiro do selo Luiz José Coelho; os juízes de julgado Luiz José de Azevedo e Manoel Antônio Cidade; o capitão do 9º Regimento da 2ª linha, comandante no lugar Maués, Fabio José da Serra; ainda o tenente Crispim Lobo de Macedo; o alferes Henoch Friglono Peroglon Calle; o cavaleiro fidalgo da Casa Real Manoel da Silva Xavier; Luiz José de Azevedo, como procurador de d. Leonor da Cunha Xavier, o alcaide João da Costa, os porteiros João Francisco da Silva e Antônio Zacarias e, finalmente, os elementos do povo em número limitado".
Esses fatos tão significativos, sob o ponto de vista histórico, são o testemunho maior da contribuição de Silves para os eventos pátrios que se comemoram sob o mais caloroso entusiasmo cívico neste setembro canicular, revelando a disciplina e o patriotismo de um povo ordeiro e inflamado pelas nobres causas do nosso Amazonas e do Brasil.

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