CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sábado, abril 30, 2016

TÓPICO PARA O CENTENÁRIO DO IGHA

Antonio Loureiro e
Zemaria Pinto
Ao completar seu quadragésimo aniversário, o IGHA (Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas) recebeu de um antigo associado – Agnelo Bittencourt – o artigo que aqui se reproduz. O articulista elaborada um sucinto retrospecto desta agremiação.
Escrito no Rio de Janeiro, com data de 25 de março de 1957, foi estampado em página especial de O Jornal, circulado em Manaus no domingo, 28 de abril daquele ano.
Às vésperas de seu centenário, o IGHA tem por presidente o dr. Antonio Loureiro (foto)


INSTITUTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO DO AMAZONAS

Agnelo Bittencourt


Completa hoje 40 anos de utilíssima existência o nosso Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, pois foi a 25 de março de 1917 que teve lugar a sua instalação festiva, sendo governador de Estado o saudoso Dr. Pedro de Alcântara Bacellar, que presidiu a sessão e se fez um grande animador do novel Sodalício.
Estiveram presentes à cerimônia, como era natural, muitas autoridades, pessoas gradas e gente do povo, segundo o nosso testemunho e o noticiário dos jornais da época. Como homenagem à memória dos muitos que não mais existem, mas tomaram parte nas alegrias do momento, lembramos, apenas, os que nos ocorrem: dom Irineu Joffily (bispo), des. Hamilton Mourão, drs. Alfredo Augusto da Matta, Vivaldo Lima, Manoel Francisco Machado (barão do Solimões), Manuel de Miranda Simões, Alcides Bahia, Pedro Luiz Simpsom, Alexandre de Carvalho Leal, Astrolábio Passos, Francisco Pedro de Araújo Filho, Armando  Barbuda, Plácido Serrano Pinto de Andrade, Elviro Dantas Cavalcante, professores Raimundo de Carvalho Palhano, Vicente Telles de Souza, José Estevão, coronéis [Guarda Nacional] Antonio C. R. Bittencourt, José Cardoso Ramalho Júnior, Adrião N. Ribeiro, padre José Thomaz de Menezes, capitão Sérgio Pessoa Filho, drs. João Batista de Faria e Souza, João Henrique dos Santos e major Lobato de Farias.

Devidamente eleitos, pela Assembléia Geral, segundo os Estatutos já aprovados pelo Governo do Estado, a primeira Diretoria do Instituto foi assim constituída: Coronel Bernardo de Azevedo de Silva Ramos, presidente; D. Irineu Jofily, 1º vice-presidente; Dr. Antonio Ayres de Almeida Freitas, 2º vice-presidente; prof. Agnelo Bittencourt, 1º secretário; Coronel Henrique Rubim, 2º secretário, e coronel Antonio C. R. Bittencourt, tesoureiro.

Pelo Decreto nº 1191, de 18 de abril 1917, o governo do Estado cedeu ao Instituto o usufruto perpétuo dos prédios nº 19 e 20 de sua propriedade, situados na antiga rua São Vicente (hoje Bernardo Ramos), onde funciona, e pela Lei de nº 897, de 24 de agosto do mesmo ano, foi reconhecido de utilidade pública.

Desde logo, o Instituto começou a formar suas preciosas coleções preparando mostruários, arquivo, biblioteca e publicações, além de constantes reuniões festivas de caráter cultural e cívico. Raro era o mês em que, ali, não se fizessem conferências, exposições, aulas e homenagens à memória de homens notáveis e a visitantes ilustres.

Nenhuma data patriótica deixava de ser comemorada, sempre com o sentido de exaltação de que tanto precisam as gerações novas. Dentre tantas solenidades que o instituto realizou, recordamos, tão somente, por falta de espaço, apenas as seguintes, umas comemorativas, outras de recepções e conferências:

·      Sessão em homenagem à memória do Conselheiro João Alfredo Corrêa de Oliveira e sobre o abolicionismo, em 13-05-1919.
·      Idem, em 07-09-1922, celebrando o 1º Centenário da Independência Nacional.
·      Idem, conferência da profª. Eulália Barroso Ramos sobre a necessidade da implantação da língua Esperanto, em 02-07-1933.
·      Idem, em memória de Theodore Roosevelt, ex-presidente dos Estados Unidos da América, em presença do Cônsul desse País e da Comissão científica norte-americana que nos visitava, em 16-05-1924.
·      Idem, em memória do Coronel Bernardo Ramos, ex-presidente do Instituto, em 05-04-1931.
·      Idem, conferência do comandante Braz Dias de Aguiar, chefe da Comissão Demarcadora de Limites do Setor Norte, sob o título “Cinco Anos de Demarcação”, em 05-11-1935.
·      Idem, homenagem à memória de Carlos Gomes, no transcurso do 1º Centenário do seu nascimento, em julho de 1936.
·      Idem, por motivo do falecimento do cientista italiano Guglielmo Marconi, em26-06-1937, sessão em conjunto com o Consulado da Itália, em 21-08-1937.
·      Idem, em memória de Aureliano Cândido Tavares Bastos, à passagem do centenário de nascimento, 20-04-1939.
·      Idem, à memória de Irineu Evangelista de Souza, visconde de Cairu, no cinquentenário do seu falecimento, sessão em 13-02-1941.
·      Idem, pelo 4º Centenário do descobrimento do rio Amazonas, em 12-02-1940.
·     Idem, no transcorrer do centenário de nascimento do botânico e etnólogo brasileiro, Barbosa Rodrigues, que tantos anos viveu em Manaus, em 23-06-1942.                                                                                                                                                                                                                                                    

A essas festas não faltavam o apoio oficial, nem brilhantes oradores e assistência.
Para o Arquivo do Instituto, entrou, aos poucos, um acervo bem valioso. Lá, estão documentos seculares referentes a fatos da nossa evolução política.
Convém não esquecer, na riqueza desse Arquivo, a coleção de jornais e revistas que se editaram, quer no regime imperial, quer no republicano, desde a Estrela do Amazonas (1852) até 1946, coleção adquirida pelo Instituto, aos herdeiros do saudoso sócio, o amazonense João Batista de Faria e Souza. No citado Arquivo entraram e, lá, devem estar autógrafos não menos valiosos, inclusive um Parecer do Conselheiro Rui Barbosa; bem assim, dois “Livros de Atas”, autênticos, sendo o mais antigo, de janeiro de 1852, no qual se encontram o Têrmo da Instalação da Província do Amazonas; o do lançamento da pedra fundamental da Igreja da Matriz desta capital; o da libertação dos escravos, de 10 de julho de 1884; o da Ponte de Ferro da Cachoeirinha etc. etc.
Há, ainda, uma autobiografia inédita de Pedro Luiz Símpson, autor da Grammatica da Língua Brasílica, de 1876.
Na biblioteca, que pensamos possuir mais de dois mil volumes, há obras verdadeiramente raras e, por isso, de um valor inestimável. Lembramos, entre outras, as seguintes:
História Natural, de Caio Plínio Segundo. Madrid, dois grossos volumes, traduzida para o espanhol, ed. 1624;
            Paradisos, de Ludivici Blossi, Antuérpia, 1632;
Compendi Historici. Affonso Loschi, Vicenza, 1668;
Memórias para a História que compreende o governo del rey d. João 1º. Lisboa, quatro grossos volumes, 1746.
       
Não menos admirável, pela abundância e raridade é a sessão etnográfica, que enche um salão contendo objetos indígenas, de ornato, caça, pesca, trabalho, guerra, religião etc. A nosso ver, o mais interessante e singular desse mundo selvícola é a coleção de machados de pedra, em geral de diorito. Cerca de 130 exemplares, de formas e tamanhos diferentes, e atribuidos a tribos algumas já desaparecidas, há mais de um século, como podemos constatar nas listas que encontramos em Barbosa Rodrigues, Araújo Amazonas e outros.
É, possivelmente, a maior coleção do Brasil. Onde estariam semelhantes peças, se não fosse a coleta do Instituto? E, sem dúvida, um ótimo elemento entregue às investigações de etnólogos empenhados na descoberta da origem das tribos que vieram ocupar a Amazônia, antes da Descoberta.
Em mostruários diversos, ali estão blocos de pedras, vidros contendo areias, terras, argilas, sementes, resinas, óleos. Mais além, couros e peles, coleção de madeiras, fibras, borracha.
Convém que o Instituto não pare, na sua coletânea, nos seus estudos e na conservação desse precioso acervo das riquezas, naturais e espirituais da Hiléia. É um dever dos governos e, particularmente, de cada um de nós, homens de pensamento e de ação, pela grandeza da Amazônia.
O Instituto tem tido, como presidente, desde sua fundação, os seguintes sócios: coronel [GN] Bernardo Ramos (por dois triênios), coronel [GN] Antonio Clemente Ribeiro Bittencourt, prof. Agnelo Bittencourt (durante quatro triênios), dr. Alfredo Augusto da Matta, dr. Franklin Washington da Silva e Almeida, des. Anísio Jobim e, atualmente, o prof. Mário Ypiranga Monteiro.
Na relação dos secretários, que mais trabalharam pelo desenvolvimento e renome da instituição, é de justiça salientar os professores Arthur Cezar Ferreira Reis e Paulo Eleutério Alvares da Silva, não só organizado o Arquivo, como realizando conferências e colaborando assíduamente na Revista. Ficaram memoráveis as aulas de História do Amazonas, que o primeiro proporcionou à mocidade estudiosa de nossa terra, trabalho esse que depois, foi publicado acrescido de novos e importantes capítulos sobre a matéria.           
Na lista dos Governadores do Estado, no interregno de 40 anos da vida do Instituto, devemos distinguir a valiosa cooperação de Pedro Alcântara Bacelar e Álvaro Maia, como do Interventor general Nelson Mello, sendo aqueles declarados Beneméritos, e, este, Presidente de Honra.
O Instituto sempre viveu em aperturas financeiras, isto é, sem fontes de recursos para manter a publicação de sua Revista e manter um porteiro-zelador (que, por isso, era mesquinhamente pago) nas subvenções do Estado (Cr$ 300,00 mensais) e do Município (igual quantia) não davam para aquisição de material de expediente e de conservação dos mostruários. Por muitas vezes, a Diretoria fê-lo à sua custa.
Registrem-se, porém, dois ou três vultosos auxílios do Governo da União, obtidos por iniciativa do saudoso orador perpétuo do Instituto, Dr. Vivaldo Palma Lima, quando Deputado Federal pelo Amazonas, na última legislatura.
Esses auxílios permitiram que o atual presidente, prof. Mário Ypiranga, ampliasse o prédio, cujas obras se acham inacabadas, na esperança de um novo e urgente impulso.
O Instituto precisa sair do período de estagnação em que se encontra, recuperando o fio de sua brilhante finalidade, pois, ninguém deve desconhecer o papel que os estudos geográficos e históricos desempenham na comunhão social, no bem-estar dos povos adiantados. Faz-se, cada vez mais útil, para a amplificação da cultura, a existência de museus, arquivos e bibliotecas, nos quais se possam haurir conhecimentos sôbre o que foi e o que é em relação à Natureza e ao Homem. Completam as escolas no enriquecimento da inteligência.

Uma cidade que não possua centros nos quais se aninhem as ciências e as artes, o comércio e as indústrias, os bons costumes e o civismo, não se honra a sí própria, não dá ensanchas ao progresso. O Instituto precisa de amparo. Ajudem o seu Presidente, que é um amazonense ilustre e compreensivo, publicista e membro da Academia Amazonense de Letras.
Está operando proveitosamente em Manaus o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, que tem à sua frente o dinâmico historiógrafo prof. Arthur Reis. Acaba esse nosso coestaduano de soerguer do abandono em que se encontrava o outrora renomado Museu Goeldi (Museu Paraense). Aplausos têm surgido, em louvor dessa providência salvadora. A Entidade, de vivas e esplêndidas tradições, resurge e retoma seu destino cultural.

Após entendimentos com o Governo do Estado e com a sociedade responsável pelo nosso Instituto, de um lado; de outro, com aquele Professor, e tudo se conseguirá. É oportuno lembrar, repetindo Samuel Smiles, que, para a prática de uma boa ação, “convém imediatamente dar o primeiro passo, e estará conquistada a metade da vitória”.

Trata-se de um Sodalício que é, nos termos dos seus estatutos (Decreto nº 1.190, de 17 de abril de 1917), como a nossa Academia Amazonense de Letras, um patrimônio do Estado e uma sentinela avançada da nossa civilização.

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