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terça-feira, setembro 27, 2016

AMAZONAS, 1970

O AMAZONAS É ASSIM (*)
Capa da publicação

Vegetação

A ocorrência de uma densa cobertura florestal é o aspecto mais característico da Amazônia. Pelos limites exteriores da selva correm os limites da região natural. A mata amazônica, denominada "hileia" (Hyloea) por Humboldt, é a mais vasta floresta equatorial do mundo.

Vista de um avião, sua paisagem é de incrível monotonia. As copas das árvores, que se sucedem contínuas e de altura irregular, lembram a superfície de um colossal tapete verde-escuro, esponjoso, estendido até o horizonte, em todas as direções. Rasgões relativamente estreitos deixam apenas passar os rios, únicos caminhos por onde o homem pode esgueirar-se até o interior daquela compacta massa vegetal.

Vista desde o chão, porém, a uniformidade cede lugar a uma extrema variedade. Conforme o sítio em que se encontra, a floresta amazônica se subdivide em: mata de igapó, mata de várzea — que R. Rodrigues Lima ainda reparte em mata de várzea baixa e de várzea alta — e mata de terra firme. Cada uma delas tem um conjunto de plantas típicas, mas muitas espécies existem que crescem em várias formações.

Assim, a mata de igapó é muito rica em palmeiras, especialmente o jupati e o açaí; na mata da várzea vicejam em grande número a seringueira e a sumaúma, e a castanha-do-pará ergue-se dominadora em imensas extensões de mata de terra firme.
Quando uma estrada corta a mata virgem de terra firme – como a Manaus-Itacoatinga (sic), a Belém-Brasília ou a Brasília-Acre – pode-se observar com clareza a estrutura da hileia, a luta por um lugar ao sol e a adaptação dos indivíduos ao meio.

Os gigantes da mata são as árvores emergentes, com 35 metros ou mais de altura, que expandem suas copas por cima das demais, aqui e acolá, como ilhas num oceano revolto. Este oceano de verdura é formado pela abóbada foliar, entre 20 e 35 metros, onde, ao contrário, as copas das árvores se comprimem, alongando-se na direção vertical, em disputa da luz. Entre cinco e 20 metros, o andar arbóreo interior é constituído por árvores de troncos finos e poucas folhas que crescem à procura do nível superior da vegetação.

Rodovia Manaus-Porto Velho, 1970

Do solo até cinco metros, arbustos, samambaias e outras pequenas plantas formam o sub-bosque, cujas formas vegetativas são adaptadas à vida num ambiente de estufa morno, úmido e de penumbra. Muitas plantas deste andar têm folhas grandes, capazes de captar avidamente em seus estômagos a energia dos raros feixes de luz infiltrados através da verdura e que escorrem por suas pontas afiladas o excesso de água sobre elas acumulado.

A densidade vegetal da selva amazônica é ainda aumentada pelos cipós, pendentes das árvores mais altas e que ligam os diferentes andares; pelas epífitas, que crescem agarradas aos troncos e galhos das árvores, e pela infinidade de vegetais inferiores: os musgos, os líquens, os fungos, os cogumelos.

É uma ilusão de origem literária pensar que a hileia se apresenta, por toda parte, como uma floresta de folhas perenes. Certamente é a mata de várzea e, nas áreas de clima sempre úmido, como o do Alto Rio Negro, também a de terra firme. Nas partes onde a estação seca é pronunciada, entretanto, uma fração das árvores perde as folhas –particularmente as árvores emergentes – no auge da estiagem.

As raízes chatas, verticais e triangulares, chamadas "sapopembas", que apoiam como escoras certas árvores, dão uma impressão exagerada sobre a grossura das mesmas. Raríssimas devem ser aquelas cujos troncos, à altura do peito de um homem, alcançam dois metros de espessura. A natureza parece sugerir que a hileia é uma formação jovem, recém-instalada na Amazônia, fato que só pode ser comprovado, porém, através de um exame dendrológico sistemático ou do exame com carbono 14.

A complexidade da hileia tem chamado a atenção de muitos cientistas. Deffontaines informa, sobre este assunto, que, enquanto as florestas europeias, já meticulosamente estudadas, contêm 200 espécies arbóreas, na selva amazônica foram, até hoje, catalogadas mais de 400 árvores, e seu conhecimento completo está longe de ser atingido.

Tal riqueza botânica equivaleria a uma pobreza econômica, porque as florestas das zonas temperadas e frias, sendo mais homogêneas, permitiriam sua exploração a custo mais baixo, visto que as espécies de valor comercial se sucedem a pequena distância. A hileia já não é assim e a exploração dos seringais silvestres foi um exemplo disso. Mesmo nas concentrações naturais de hévea, no Acre e sudoeste do Amazonas, a distância a percorrer entre duas seringueiras mais próximas é da ordem de 300 metros, pelo menos.

Claro que tal condição é desfavorável à hileia para o extrativismo vegetal; contudo, nesta mesma forma econômica, a heterogeneidade da mata equatorial permite uma variedade muito maior de atividades extrativas que as florestas de coníferas.

A relativa dificuldade da produção coletora na selva amazônica reside sobretudo na falta de conhecimento empírico. No entanto, os caboclos da região sabem muito bem, por exemplo, que a castanha-do-pará se encontra, principalmente, no Médio Tocantins e no Itacaiúnas (Pará), bem como nos vales do Madeira e do Purus; que os vales seringueiros por excelência são os do Juruá, Purus e Madeira, e que as matas do Médio Araguaia são ricas em mogno.

Segundo assegura o prof. Lucio de Castro Soares, em seu livro Amazônia,    riquíssima em espécies botânicas, a hileia amazônica oferece quantidade incalculável de matérias-primas vegetais de grande valor industrial, algumas delas essenciais à  civilização moderna.

Dentre estas matérias-primas contam-se madeiras para todos os fins, óleos e resinas para a indústria de tintas, vernizes e lubrificantes; vários látex producentes de borracha; fibras; frutos alimentícios. 


A abundância de alimentos e de água na floresta amazônica sustenta variadíssima fauna terrestre e aquática, donde serem a caça e a pesca importantes fontes de riqueza da Amazônia.

(*) Almanaque Municipal Brasileiro, ref. ao Amazonas, 1970

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