CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

sábado, setembro 16, 2017

OCULISTA & OFTALMOLOGISTA

Depois de largo tempo bem longe – cinco anos – voltei ao Milenium para uma consulta com o oftalmologista. Duas surpresas me aguardavam: como sempre, uma deleitosa e a outra nem tanto. Começo por esta. A catarata precisa ser operada. Confesso que nem me foi um sobressalto, pois, na última consulta, a médica já me apontara esta direção. Era somente questão de tempo, e este bendito chega com arrojo.
Aluno 111 Roberto (1966)

Dr. Cavalcanti foi enfático, e já marcava a cirurgia para duas semanas depois, tão logo desembarcasse de suas férias em Portugal. Todavia, não foi possível, pois também eu estava viajando à Brasília para rever alguns de meus amores. De retorno, outros agradáveis empecilhos vem adiando a intervenção.

Um salto no calendário para relembrar meus problemas com os olhos, e desse modo contar um pouco dessa evolução da oftalmologia. Há 50 e poucos anos, quando fui prestar serviço militar tive que enfrentar a inspeção de saúde, então realizada em grupo e em pelo. Éramos vinte e poucos candidatos ao NPOR e, na enfermaria do 27º BC, fomos dispostos para a famigerada seleção sanitária.

A chamada era feita por ordem alfabética. Para minha fortuna, por me chamar Manoel, fui observando o exame dos concorrentes, todos jovens de dezoito anos. E depois de sopra daqui, olha dacolá, o candidato tinha sua visão examinada. Como? Não havia material adequado na sala, como impresso alfabético afixado na parede, de maneira que o médico (não sei se especialista) mandava o candidato ler o nome de remédios expostos num armário envidraçado encostado em uma parede.

Quartel do 1º BIS, antigo 27BC

Nessa ocasião, descobri minha deficiência visual (deveria ser no plural, como foi diagnosticada muito depois). Ao perceber o embaraço para ler as marcas ou os nomes de medicamentos expostos adiante, passei – aproveitando as dicas dos colegas anteriores – a decorar tudo. Assim, quando o Manoel foi chamado para o exame visual, ele o “matou de primeira”. Saí aprovado, contente, pensando que esse subterfúgio não traria efeito.

E logo teve, bastou efetuar o treinamento de tiro. Após o ensinamento teórico, no campo, ao praticar o alinhamento da mira, veio o desastre: o projetil caiu alguns metros depois, antes do alvo. Diria, foi um tiro no pé. Interrogado pelo instrutor, sargento Fraga Dantas, disse não desconfiar da minha imperícia. Ainda assim, conclui o curso e, com a mesma insuficiência, fui incluído na Policia Militar do Estado.

Na Força Estadual, a minha admissão em 1966 foi menos traumática. Sequer houve exame médico, ao atravessar o centenário portão do quartel da Praça da Polícia, fui encaminhado em conjunto com os colegas à alfaiataria do subtenente Nonato. Logo, equipado com o famigerado cáqui, estava pronto para o serviço. E assim se passaram seis anos... até eu desembarcar na PM cearense para um curso policial, aos 26 anos de idade.

Obviamente, sem tratamento corretivo a crise visual foi se agravando. Quase ao final de 1972, levado quem sabe pelo embaraço para ler o nome do ônibus destinado a Academia de Polícia Edgard Facó, na avenida Mister Hall, ou as legendas de filmes rodados em cinemas da praça do Futuro, ou a televisão que se inaugurava a cores, recorri ao especialista, que então era nomeado de Oculista.

Aconteceu no hospital da Polícia Militar do Ceará meu primeiro exame de vista, há 45 anos! Como gostaria de registrar o nome desse facultativo, todavia, o implacável tempo desmanchou seu nome da minha memória. O exame, de então, era rematado pela leitura de letras de diversos tamanhos postadas em cartaz na parede ao fundo. A minha situação estava para um conhecido chiste: interrogado pelo oculista pelas letras, o paciente devolve, “mas, que parede?”.

Estava quase de tal modo, tanto que recordo do espanto dele ao concluir o exame: “você nunca usou óculos? Seu grau de miopia e de astigmatismo e outro desvios são acentuados”. Para encurtar a consulta: receitou-me óculos com três graus em cada lente. E recomendou: vamos aguardar a evolução do desvio. Quando recebi os óculos em ótica situada na Praça do Futuro, ainda revejo minha admiração em poder tudo ler, ao vivo e a cores.

Ainda agora são usadas letras para esse exame, mesmo com tecnologia mais apurada.
Passei a valorizar as lentes. E, de modo óbvio, a frequência aos exames periódicos, pois a recomendação do oculista cearense me “perseguia”. Já em Manaus, consultei certa ocasião a um oculista: o saudoso Dr. Avelino Pereira, que era mais político que facultativo, cujo consultório encontrava-se na rua Henrique Martins, ali no extinto Canto do Fuxico, andar acima da A Favorita. Atendia em uma sala bem acanhada e com equipamentos elementares. Acredito que ele já estivesse no “terceiro tempo”.



Ao ingressar na PM, estabeleci contato por imposição funcional com o oculista Dr. Calil Nadaf (ainda vivo). Este médico pertencia ao Serviço de Saúde da corporação, com o posto de major. Como o SS nada possuía de equipamentos, nenhum exame era possível ser realizado. De fato, era uma sinecura, que o próprio Nadaf logo tratou de dispensar, passando a cuidar de seus imóveis, onde se deu muito bem. (segue)

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