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sexta-feira, janeiro 12, 2018

PMAM – UM CAUSO DE POLÍCIA


Zuavo guarnecendo o portão do antigo
Quartel da Praça da Polícia
No encerramento do governo de Plínio Coelho (1955-59) perigosa crise estabeleceu-se na Polícia Militar do Estado. De um lado, seu comandante, major Cleto Veras, pertencente ao Exército, o qual, a despeito de sua capacidade para o lavor e das inovações bem sucedidas na corporação, era de dificultoso trato. Há registro em jornais da capital de sua irascibilidade, na abordagem com civis. No quartel da Praça da Polícia, mantinha com rispidez sua orientação.

De outro lado, o capitão Júlio Cordeiro de Carvalho, pernambucano, incorporado como sargento à PM no período da Segunda Guerra. Tornou-se um agiota no quartel e latifundiário na cidade.

Na manhã de 6 de dezembro de 1958, quando da formatura matinal no pátio do quartel da Praça da Polícia, aconteceu uma divergência (da qual desconheço a motivação) entre os nominados, de tal ordem, que “saíram pra porrada” na frente da tropa.

Parte do desenrolar da crise vai contada nesta nota que a oficialidade da corporação patrocinou a publicação em A Crítica (9 dezembro 1958)

Extrato de A Crítica, 9 dezembro 1958

O major Júlio Cordeiro de Carvalho foi recolhido ao EM do 27 BC | Adotada a Medida Por Precaução Para Evitar Consequências Mais Graves | Enérgica Nota da Oficialidade da Polícia Militar do Estado

Como já é do conhecimento público através de uma Nota publicada pela Imprensa local, assinada por vários sargentos da Polícia Militar do Estado, ocorreu, há dias, sério incidente no quartel da corporação do que resultou entrarem em violenta luta corporal o coronel Cleto Potyguara Veras, comandante, e o major [na verdade, capitão promovido em 24/09/54] Júlio Cordeiro de Carvalho. Face a essa ocorrência foi o oficial subalterno recolhido, preso, ao Estado-Maior da PMA por 30 dias.

Ante a Nota publicada, assinada por diversos sargentos, a oficialidade, na sua quase totalidade, resolveu repudiar publicamente essa atitude de insubordinação e hipotecar irrestrita solidariedade ao major Júlio Cordeiro de Carvalho.

Com isso agravou-se, ao que nos informaram a situação interna da Polícia Militar do Estado, motivo porque uma comissão de oficiais, inclusive o tenente-coronel Moutinho, subcomandante da corporação, procurou o Comando do 27 BC a quem solicitou asilo para o major Júlio Cordeiro de Carvalho, que desde ontem encontra-se recolhido ao EM do 27º BC.
Essa medida foi adotada por precaução, a fim de evitar novos incidentes mais graves entre o coronel Cleto Veras e o major Júlio Cordeiro de Carvalho.
Publicamos abaixo a Nota dos Oficiais que prestam solidariedade ao major Júlio Cordeiro de Carvalho.

Recorte de A Crítica, 9 dezembro 1958

A OFICIALIDADE DA POLICIA MILITAR DO ESTADO, face à inoportuna NOTA publicada pelo "O Jornal" de 7 do corrente, sob o título "SOLICITADAS", de autoria de alguns sargentos da Polícia Militar do Estado, na qual vêm prestando solidariedade ao comando da referida Corporação em flagrante desrespeito aos preceitos regulamentares, mencionando deturpadamente um incidente havido na manhã do dia 6 do corrente, entre o senhor coronel Cleto Potyguara Veras e o capitão Júlio Cordeiro de Carvalho e, como 0 caso esteja  entregue à Justiça Militar para ser apurado nos  seus devidos termos, vem por meio da presente protestar contra a referida nota, por não expressar a verdade dos fatos, e prestar inteira solidariedade moral ao Capitão Júlio Cordeiro de Carvalho, diante da referida "Solicitada". 
Manaus, 7 de dezembro de 1958. 
(ass.) Tenente-Coronel Médico Dr. Antônio Hosannah da Silva Filho; Tenente-Coronel Neper da Silveira Alencar [chefe da Casa Militar]; Majores Manoel José Moutinho Júnior [subcomandante], Jorge Fernandes de Lima, Francisco Menezes, José Silva; Capitães Achilles Daltro Pinto da Frota, Mozart Miquelino da Cunha, João Teixeira, Omar Gomes da Silveira; Tenentes Pedro Macedo de Albuquerque, Olívio Carvalho Vieira, Francisco de Assis Magalhães, José de Areosa Assunção, Mirtilo Frické de Lyra, Edson Borges de Paula, Nathan Lamego de Oliveira, Alfredo Barbosa Filho, Edgar Pinheiro Gama, Joaquim Henriques de  Souza, Deocleciano Vieira, Alcimar Guimarães Pinheiro, Francisco Carneiro da Silva, Waldemar Silva, Severino Gomes da Silva.

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