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sexta-feira, fevereiro 16, 2018

JORGE TUFIC (1)


A morte de Jorge Tufic prossegue, é compreensível, ressoando. Desse modo, fui em busca de compreender sua importância para a literatura regional, quando se resume sua participação apenas como o autor da letra do Hino do
Jorge Tufic, 2011
Amazonas. Longe disso, sei.
Para chegar mais longe, recorri ao saudoso poeta Alencar e Silva, que produziu uma consistente apreciação sobre o autor de Varanda de Pássaros (1956), e inúmeras obras em prosa e verso. 
Vale recordar, antes de transcrever Alencar, que a Universidade ressurge em Manaus, no meado dos 1960. Que as agremiações estudantis agregavam os jovens poetas e prosadores, cuja atividade desagua, grosso modo, no Clube da Madrugada, estreado em 1954. E mais, que alguns clubistas (Alencar e Tufic, entre esses) ali embarcaram com o afã de romper esses grilhões.

Jorge Tufic viveu essa desconcertante estação da vida manauara, em todos os aspectos. Seu amigo Alencar e Silva resumiu esse estágio no capítulo intitulado “As Tendas do Caminho”, constante de seu Quadros da Moderna Poesia Amazonense. Manaus: Valer, 2011.   
Jorge Tufic trouxe, efetivamente, para o meio cultural em que foi transplantado uma contribuição genuína de semente caída em terra fértil. Essa lhe foi, por certo, a circunstância decisiva. Não houvesse uma espécie de determinismo cósmico que, somado ao estado de ebulição e inquietação da juventude, move as gerações contra as estratificações e a ordem estabelecida, fazendo-as avançar sempre mais - é certo que esse estado de coisas se prolongaria e, no caso, o poeta ficaria a ver navios... Mas, não.

No primeiro a passar ele embarcou. Como bom fenício. Como bom marinheiro. Como descobridor de novas terras.
Foi assim também que, movido pela sede de desconhecido, ele empreendeu as suas primeiras viagens de adulto — eis que, quando infante, já viajara pelo Acre e rios da região e experimentara, de algum modo, o pânico e os dissabores de um naufrágio em que a família perdera tudo.
Foi em 1951 e 1953 que se realizaram aquelas viagens — ou caravanas, como as denomináramos — em que demandamos os brasis sulinos, no afã de superar as angustiosas contingências locais, que a ausência de universidade superlativara, encurralando a juventude entre a debandada e a aceitação pacífica de status quo.”

O poema abaixo, inserido no mesmo capítulo, ilustra a análise de Alencar sobre Tufic.

POSSÍVEL SONETO À DALVA

Dalva, o seu nome. O resto, uma cidade
e nela o meu orgulho. Uma janela
e Dalva no ar de sonho que flutuava
sobre tudo; um vapor, uma agonia!

Deu-se então, como às vezes acontece,
o inevitável: mágoa? Alumbramento?
Foram ver-me no quarto. E que tristeza
havia que eu não via em meu semblante?

(Que balões de mil cores pela noite
pintados pela febre!) O doutor veio
e disse: muito doente. Atrás do vidro

a imagem redourada de uma lua
— igual a um forno — e nele o fogo brando
como Dalva em meu peito, a consumia.

(De Varanda de Pássaros – 1956)

“E aqui se fecha o círculo iniciado a partir daquelas tendas que o poeta vem erguendo pelos caminhos. E onde, enfileiradas ou suspensas no ar, esplendem as preciosidades trazidas do reino”, remata Alencar e Silva.

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