CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

quinta-feira, maio 10, 2018

CORONEL NARDI DE SOUZA


Coronel Jorge Nardi, em Jornal do
Commercio
, 20 nov. 1971
Quando ingressei na Polícia Militar do Amazonas em 1966, deparei com uma robusta admiração pelo comandante anterior: major EB José Jorge Nardi de Souza (1964-65). Posteriormente, já tenente-coronel, Nardi assumiu a Secretaria de Segurança Pública, no governo de João Walter de Andrade (1971-75).
Em nossos dias, ele retorna à memória da cidade, em vista de seu filho – general-de-exército César Augusto Nardi de Souza – ter assumido o Comando Militar da Amazônia (CMA).
Convém registrar que o ex-comandante da PMAM foi contemplado com o título de Cidadão de Manaus, por iniciativa do então vereador Damião Ribeiro (membro inativo da Força Terrestre). A entrega da comenda aconteceu no segundo semestre de 1975, e o discurso do agraciado, transcrito abaixo, foi compartilhado do Jornal Cultura, órgão da Fundação Cultura do Amazonas.
  


NA POSSE DO TÍTULO DE CIDADÃO DE MANAUS

Jorge Nardi de Souza

A Providência Divina que um dia me colocou em terras amazônicas é a mesma que, neste instante, me traz diante dos Senhores. Ao Deus Todo Poderoso então, meus agradecimentos por esta dádiva do céu, aqui no mundo terreno aplicada pelo julgamento magnânimo desta Colenda Câmara de representantes do povo, neste longínquo setentrião Brasileiro, onde tudo é imenso, por certo, imensa também é a generosidade de V. Exas. ao me conferirem o Título de Cidadão de Manaus, proposto pelo Exmo. Sr. Deputado Estadual Damião Alves Ribeiro, quando vereador desta Casa, e que teve ainda a extrema gentileza de saudar-me com palavras que buscaram dar realce a minha pessoa.
Há instantes na vida em que nos consideramos pequenos, menores do que realmente somos. A modéstia e a humildade de uma existência imprimem em nós um estado de tensão quando o inusitado, o realce e a honraria nos destacam. Não sabemos se isso é devido às reações biológicas de nossa organização física ou a nossa reduzida escala de méritos. A emoção nos domina.
Contudo, somente permanece lúcido e firme o ideal de bem servir à causa pública, sem alarde, dentro dos ideais da Revolução Redentora e Democrática de 31 de março de 64, mesmo com prejuízos de valiosos interesses pessoais. Tenho sempre por tradição atávica uma atração pelo Amazonas. Minha terra natal foi fundada por um bandeirante e bandeirantes continuaram os moradores de Sorocaba que alargaram as fronteiras pátrias muito além do que, previa o Tratado das Tordesilhas.
Em singular analogia Manaus traz em sua história e sua tradição essa marca de lutas. Foi um dos baluartes do Norte, em torno do qual se definiram nossas fronteiras setentrionais.
Hodiernamente essa similitude continua: No campo Industrial as duas metrópoles se identificam em seu progresso e em sua pujança. Sorocaba, ainda bem pouco tempo, desenvolvia quase que exclusivamente uma atividade têxtil, sendo mesmo chamada de Manchester Paulista.
De uns cinco ou seis anos para cá o seu parque industrial tem-se diversificado e hoje cerca de mais de meia centena de indústrias das mais representativas para o desenvolvimento e a economia nacionais e para o mercado do trabalho estão lá se instalando para iniciarem a curto prazo as suas produções específicas. Isto tem acarretado problemas para o ajuste da sua infraestrutura em face de um aumento populacional acelerado que permitirá, segundo as previsões, dobrar o número de habitantes em pouco tempo, e modificações em toda a conjuntura social tradicional em face de problemas próprios de uma cidade em franco e acelerado progresso. Manaus, por sua vez, registra nos últimos anos, após a implantação da Zona Franca, um extraordinário e progressivo desenvolvimento nas suas áreas comercial, industrial e agropecuário, bem como um aumento sensível e contínuo da sua população face as novas e diversificadas oportunidades para o seu mercado de trabalho.
Aqui, também a tranquilidade tradicional da população tem sido atingida, face as injunções próprias das crescentes integrações social decorrentes do seu desenvolvimento.Manaus, minha terra de adoção;Manaus, prodígio de uma sobrevivência isolada no meio da maior selva tropical do mundo;
Manaus, dileta herdeira da Comarca de São José do Rio Negro; Manaus, do abraço das águas;
Manaus, dos Remédios, da rua Frei José dos Inocentes;
Manaus, dos regatões e da Zona Franca.
 Diz o poeta:
“MOSTRA-ME TUA CIDADE E DIREI O CARÁTER DE TEU POVO”. Volto a te reverenciar, Manaus do vendedor de Jaraqui.
Manaus, regurgitante de progresso, de trabalho, de patriotismo e de ideais.Berço de gente patriótica e estoica;Terra adorada e de alma generosa, tão generosa a ponto de outorgar um título tão elevado a um cidadão tão simples e de singelos méritos.
 Profundamente agradecido declaro de público que acolho emocionado esta honraria. De pé, na posição de “Sentido”, cheio de orgulho patriótico, recebo o título de Cidadão de Manaus. Muito obrigado aos que confiaram em mim, que me creditaram essa dignidade, que jamais deslustrarei. Ela me acompanhará sempre neste caminhar humano pela estrada do finito e do infinito.
Como a alma é imortal, o ato de hoje passa para a imortalidade de meu reconhecimento.
Tantas e tão brilhantes figuras receberam esse título; acredito, porém, que mais emocionado e mais reconhecido do que eu. Permitam-me, contudo, meus Senhores e minhas Senhoras, redobrar minha felicidade, dividindo as honrarias. Desejo compartilhar com todos aqueles que comigo labutaram, heróis anônimos dos verdadeiros méritos.
Desejo reverenciar neste momento a memória de minha mãe extremosa e referir-me ao meu já velho e doente pai, homem dos mais dignos, que de longe, lá de Sorocaba (SP), está vos agradecendo o destaque que destes ao seu filho.
 Ao Exército que desde 1957, quando Comandante da 6ª Companhia de Fronteira, em Guajará-Mirim (RO), me proporcionou a honra de conhecer grande parte desta imensa área, imprimindo em minha alma uma formação moral e intelectual adequando-me a receber esse imenso galardão, num amplexo que transcende a mais profunda expressão de amor.
Na figura de minha esposa, a minha homenagem às mães manauaras, na excelsa missão de iluminar com amor a estrada da vida da família.
A todas as esposas, mães e filhas sem distinção minha homenagem respeitosa e o meu mais profundo agradecimento. A meus filhos adorados, transfiro em honroso testamento público, a herança incomparável desta riqueza que acabo de receber.Aos meus conterrâneos de Sorocaba, que me inspiraram em todas as jornadas de lutas, estendo as glórias deste instante, abraçando-os comovido.
Aos meus amigos, patrícios e concidadãos manauaras, o meu abraço fraterno e a certeza de minha estima perene.
Finalmente, agradeço a Deus ter-me fortalecido nesta hora solene, rogando-Lhe que receba a prece que Lhe dirijo:
 Obrigado, Senhor!
Muito obrigado!

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